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Blog sobre a biblioteconomia, bibliotecário, biblioteca, informação, mensagem, usuário, TICs. O nome do blog foi "surrupiado" de um roteiro (para teatro ou cinema) escrito por Paulo de Castro, o maior bibliotecário da terra. E viva Kalímeros!

domingo, 21 de agosto de 2011

Por que boas idéias sobre bibliotecas, na maioria das vezes, não são de bibliotecários

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Uma bibliotecária, que foi ao CBBD 2011, me disse que as palestras e apresentações sobre web 2.0, blogs e redes sociais foram muito procuradas no evento. É interessante ver o movimento dos bibliotecários em direção ao uso efetivo das modernas tecnologias da informação no trabalho cotidiano. Essas ferramentas possibilitam a ocupação, pelos bibliotecários, de um amplo campo de trabalho, além de incrementar antigas práticas.

Por outro lado, vejo com tristeza que um espaço amplo, de forte contraste com o cenário acima descrito, foi deixado de lado. Por que abraçar as tecnologias da informação de forma irrestrita e esquecer que há um universo infinito de possibilidades à margem destas inovações? E este espaço é ocupado por pessoas que têm vontade, disposição e talento para atender às comunidades mais distantes dos ambientes institucionais. Porque este é um dos equívocos dos cursos de biblioteconomia atualmente: considerar que informação, necessidades de informação, usuários de informação só existem em contextos institucionalizados.

Então temos que nos render à criatividade de quem, sem passar pela academia, compreendeu claramente que a leitura é uma forma de combate à exclusão e que as bibliotecas são os elos mais fortes entre leitor e livro. Justo as bibliotecas, tão renegadas pelos bibliotecários, que falam com orgulho que trabalham com informação. Sempre achei pretensioso demais este discurso: "trabalho com a informação em qualquer suporte". Isso é verdade, mas esconde uma deficiência de nossa formação: não somos capacitados para trabalhar com a base da biblioteconomia que é a biblioteca. E dois tipos de biblioteca são os mais rejeitados em nossa profissão: a escolar e a comunitária. A primeira por negligência do poder público; a segunda por puro preconceito. E é nesse segundo segmento que surgem idéias maravilhosas, fruto do trabalho de pessoas que passaram longe da formação acadêmica em biblioteconomia (ou de qualquer outra). São pessoas como Otávio Junior, o "Livreiro do alemão", que aprendeu sozinho a importância da leitura e quis compartilhar com o mundo, especialmente seu mundo do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

Otávio foi tema de matéria na revista Língua Portuguesa (no. 70, agosto de 2011, p.50-51). A matéria abaixo, publicada pela Folha de São Paulo, no Caderno Cotidiano, é inspiradora. E Otávio se vale das TICs para divulgar seu trabalho (no blog Ler é 10 - Leia Favela).

31/07/2011 - 15h57

Livreiro do Alemão cria "barracoteca" na favela


EMILIO SANT'ANNA
DE SÃO PAULO

Enquanto traficantes do Comando Vermelho em fuga trocavam tiros com a polícia e soldados do Exército durante a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, em novembro de 2010, Otávio Júnior, 27, escrevia.

Sem poder sair de casa, finalizava "O Livreiro do Alemão" --seu ingresso no mundo dos escritores-- e preparava-se para instalar a primeira biblioteca do conjunto de 13 favelas na zona norte do Rio com quase 400 mil pessoas.

"Quando os confrontos eram muito acirrados, eu produzia muito. Escrevia enquanto as balas "comiam" para cima e pra baixo."

Biblioteca? Na verdade, trata-se da "Barracoteca Hans Christian Andersen" - corrige Otávio. O nome é uma homenagem ao escritor dinamarquês autor de contos como "A Pequena Sereia" e "A Roupa Nova do Rei".

O local --um antigo salão de forró-- no morro do Caracol, Complexo da Penha, funciona desde maio e será inaugurado oficialmente em 22 de agosto, dia do Folclore.

Parte dos livros é doação do Ministério da Cultura, o resto foi amealhado por Otávio durante os dez anos em que andou por todo o Complexo da Penha e do Alemão, com uma mala na mão, oferecendo livros emprestados aos moradores.

O investimento foi de R$ 7.000. Como não tinha nem a décima parte desse valor, a solução foi apelar a conhecidos e desconhecidos. "Passei o chapéu, mas passei o chapéu virtual", diz.

No blog Ler é 10 - Leia Favela (leredezleiafavela.blogspot.com), o jovem anunciou a barracoteca. Em três meses reuniu a quantia necessária.

Filho de pedreiro, chamou o pai para reformar o local.

Otávio narra em "O Livreiro do Alemão" (Panda Books) como seu amor à literatura se deu quase por acaso. Aos oito anos, saía de casa todo dia para ver as peladas no campo de terra da comunidade.

"Naquele dia, passei em frente a um lixão e havia uma caixa com brinquedos velhos e um livro", conta. "À tarde faltou luz e como não podíamos assistir a televisão preto e branco, lembrei do livro."

IMPACTO

O "impacto da literatura" mudou a vida do menino. A paixão cresceu a ponto de, no ensino médio, desenvolver um hábito: matar aula, tomar um ônibus, andar 20 km e ir para a biblioteca do Museu da República, no centro."Chegava a ler dez livros por dia."

Era então um tempo difícil. A família enfrentava o alcoolismo do pai de Otávio.

"Minha mãe ficou louca quando descobriu. Porém, sabia que eu matava aula mas estava bem acompanhado."

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Produção de conteúdo para e-books

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Matéria veiculada no programa "Pequenas empresas, grandes negócios" exibido pela Rede Globo no dia 14 de agosto de 2011.

Para ver matéria com vídeo no Portal da Globo clique aqui. 

Pequenas empresas investem na produção de conteúdo para e-books.

No Brasil, a expansão dos tablets impulsiona o novo mercado. Empresários investem em softwares para criar conteúdo de livros.


Do PEGN TV


Os livros digitais ou e-books lideram, pela primeira vez, o mercado editorial nos Estados Unidos. No Brasil, a expansão dos tablets impulsiona o novo mercado. Com a novidade eletrônica, pequenas empresas já investem na produção dos conteúdos para e-books.

O novo mundo do livro ganhou interatividade digital, com imagens animadas e sons. Em um pequeno computador com teclado virtual, conhecido como tablet, é possível ler não apenas um, mas uma infinidade de livros.

As páginas mudam como se fossem na versão em papel. As facilidades também podem ser encontradas no celular e nos leitores eletrônicos, os chamados e-readers.
Com tanta tecnologia à disposição, o livro digital se tornou uma opção prática nos dias de hoje e aos poucos começa a ocupar espaço no mercado ainda dominado pelas publicações impressas.

O número de títulos disponíveis na versão digital aqui no Brasil ainda é considerado baixo pelo mercado editorial. Mas o cenário está mudando.

A base instalada no Brasil hoje de tablet já passou da casa dos 100 mil, então hoje você tem um público que pode consumir livros digitais no nosso país. As publicações infantis ganham destaque nesse universo. As crianças adoram a interatividade.

Para criar o conteúdo interativo dos livros, uma empresa de tecnologia da informação se especializou na produção de um software. Com investimento de R$ 30 mil em equipamentos, os empresários Cristiano Sanches e Wladimir Braguini começaram o negócio em 2008. Hoje, eles têm 15 clientes. O faturamento fica entre R$ 50 mil e R$ 60 mil por mês.

“É um trabalho que nós fazemos para a criação de um livro interativo, muitas vezes envolve um trabalho um pouco artesanal (...). É muito parecido com um desenvolvimento de um jogo, onde você tem que pensar em cada cena, em cada montagem”, afirma o empresário Wladimir Braguini.

A empresa investiu em um clássico de Monteiro Lobato, o leitor pode participar da história de Narizinho. Com o dedo, ele conduz o vagalume para iluminar o caminho da menina e seus amigos. As animações nos livros são feitas por uma equipe de programadores e designers.

“A gente tem que se passar por uma criança na hora de desenvolver, na hora de pensar na interação, na hora de realizar o design”, diz Nadia Faustino, designer.

É justamente na geração do futuro que está a maior aposta do livro digital. “O mercado infantil é que o que a gente chama de nativos digitais, né? Eles pegam o Ipad, o Iphone e eles saem clicando e querendo saber o que aquilo faz, o que aquilo toca. Diferente do adulto, que fica um pouco olhando sem saber o que fazer. Então os livros digitais e as aplicações para criança têm um apelo muito forte”, sugere Sanches.

A execução do projeto de um livro digital pode durar cerca de 6 meses e chega a custar até R$ 30 mil.

Uma editora de São Paulo contratou a empresa para lançar o primeiro livro na versão digital. Um título infanto-juvenil repleto de animações e sons. Uma experiência para acompanhar o mercado em expansão.

“Os tablets estão chamando atenção de um público muito amplo. Eu não vejo só a criança acessando esse livro ou lendo esse livro. Eu acho que os adultos que têm acesso aos tablets vão se interessar nos que estão sendo produzidos”, diz Isabel Lopes Coelho, editora de livros.

O professor Rodrigo Barbosa está entre os leitores da nova tecnologia. “Agora é muito prático. Você olha. Você vê, está ali. Nem precisa virar página mais”, diz.

Os livros interativos também mexem com a imaginação dos escritores, que reconhecem as vantagens tecnológicas.

“Agora, a gente pode dispor para contar uma história, né, de muito mais ingrediente. A gente pode introduzir música, dando um clima mais romântico, mais de suspense, você pode descrever o personagem com a própria imagem”, diz o escritor Paulo Santoro.

Embora ainda para poucos, o acesso ao mundo digital deve aumentar em breve no Brasil. A venda de tablets, por exemplo, pode crescer neste segundo semestre com os incentivos fiscais do governo. O aparelho que custa entre R$1,3 mil e R$ 2,3 mil, vai ter uma redução no preço de 30%.

“Cada mês as revistas lançam conteúdos diferentes, as empresas, as editoras lançam livros diferentes com interações diferentes. Então, daqui para a frente, ainda tem muita novidade por vir”, diz Sanches.

Fonte: http://g1.globo.com/economia/pme/noticia/2011/08/pequenas-empresas-investem-na-producao-de-conteudo-para-e-books.html

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ainda sobre material bibliográfico como bem permanente ou bem de consumo

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Complementando o post anterior.

O TRT do Espírito Santo classifica os livros como bens permanentes e os periódicos com bens de consumo. Antigamente cada unidade recebia um número de patrimônio, mas atualmente os livros recebem essa numeração por lotes. Ou seja, um conjunto de livros adquiridos recebem o mesmo número; normalmente um número por nota fiscal. O Serviço de Patrimônio endossado pelo Núcleo de Controle Interno do TRT propôs que se adotasse um número de patrimônio único para toda a coleção.

O número único facilita o controle patrimonial, mas dificulta o desenvolvimento do acervo, especialmente o descarte. Para descartar material danificado (inservível), desatualizado, sem interesse para a instituição, em número excessivo deve-se abrir processo administrativo, elaborar lista de descarte, oferecer o material para outros órgãos do judiciário e, caso não haja interesse, enviá-lo para reciclagem. O problema é que isso é excessivamente burocrático. E a cada conjunto de material retirado deve-se abater seu valor do montante do valor da coleção. O controle patrimonial de livros duplica processos que já são feitos na biblioteca. Esta controla rigorosamente a aquisição e o descarte através de registro em sistema. O mesmo trabalho que o setor de patrimônio faz ao classificar esse material como bem permanente.

Algumas dificuldades que devem ser dribladas ao utilizar a classificação “bem permanente” para os livros e outros materiais bibliográficos: uma delas já relatada no post anterior é a durabilidade deste material. Tanto a parte física quanto o conteúdo. Outra é a circulação. Livros em bibliotecas devem circular, ser lidos, manuseados, tomados de empréstimo. Aqui sugeriram que para cada livro retirado da biblioteca seja lavrado um termo de compromisso, assinado pelo usuário. Seguindo isso à risca não haverá mais empréstimos. Claro que pode-se criar alternativas para essa situação. Como os empréstimos são feitos para servidores e magistrados, os extravios, atrasos e danos aos materiais podem ser “cobrados” destes usuários, que ao se desligarem da instituição devem apresentar “Nada Consta” da Biblioteca ao setor de recursos humanos. Mas esse procedimento burocrático dificulta circulação do material, processo primordial e razão ser da biblioteca.

Sobre classificação de material bibliográfico como bem permanente ou bem de consumo:

MEDEIROS, Nilcéia Lage; MELO, Alfredo Alves de Oliveira; JEUNON, Ester Eliane. A classificação de acervos bibliográficos em bibliotecas de órgãos do judiciário: bens de consumo ou permanente. Perspectivas em ciência da informação, Belo Horizonte, v.12, n.2, p.130-157, maio/ago. 2007. Disponível em: <http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/287/87>. Acesso em:   05 ago. 2011.

Sobre depreciação do valor do livro:

SANTOS, Maria José Onofre et al. Depreciação de livros: procedimentos para determinação do custo. In: CONGRESSO USP CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 5., 2005, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2005. Disponível em: <http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos52005/513.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2011.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Material bibliográfico como bem permanente ou bem de consumo?

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Quem trabalha no serviço público sabe quão burocrático é o desenvolvimento de acervo nas bibliotecas e centros de informação dos órgãos públicos. A burocracia é necessária para garantir a lisura e a transparência na aquisição de material bibliográfico. A aquisição exige tomada de preços, orçamentos de pelo menos três fornecedores diferentes e licitação. Além disso, o fornecedor vencedor da licitação deve estar quites com a Receita Federal (Certidão Negativa de Débitos Relativos a Tributos Federais e à Dívida Ativa da União); com a Previdência (Certidão Negativa de Débitos Relativos à Previdência (INSS)); e estar regular perante o FGTS (Certidão de Regularidade do FGTS). Muitas vezes isso impede a compra direta junto ao produtor (no nosso caso, as editoras), permitida quando o material tem apenas um “produtor”). O descarte, outra ponta do processo de desenvolvimento de acervo, também é complicado. Porque os materiais bibliográficos, exceto nas bibliotecas públicas, são classificados como bens permanentes. Esta classificação está lá no Manual SIAFI da Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda.

A Lei 10.753/2003, que institui a Política Nacional do Livro, em seu art. 18 estabelece que “com a finalidade de controlar os bens patrimoniais das bibliotecas públicas, o livro não é considerado material permanente”. Mas o objetivo da lei não é tratar da aquisição de material bibliográfico e sim de facilitar e incentivar o acesso à leitura estabelecendo diretrizes para a editoração, distribuição, comercialização e difusão do livro. A lei também não define o que é biblioteca pública.

A Secretária do Tesouro Nacional (STN), no Manual SIAFI, define biblioteca pública como “uma instituição fundamental para o desenvolvimento educacional, cultural e social dos povos modernos. São centros de informação da comunidade instalados em lugar público, aberta a todos, em horário adequado para a comunidade, podendo-se ler livremente de tudo o que lhe possa interessar em materiais bibliográficos”. Esta é a definição corrente na literatura de biblioteconomia.

Mas quais são as bibliotecas públicas a que se refere o art. 18 da Lei 10.753/2003? São as bibliotecas públicas no sentido amplo do conceito, ou seja, aquelas que atendem a todo o conjunto da sociedade, que possuem acervo universal versando sobre todos os temas. Ou são as bibliotecas mantidas pelo poder público?

A STN define biblioteca pública de acordo com a tipologia das bibliotecas. Nesta tipificação de bibliotecas temos as nacionais (responsáveis pelo controle bibliográfico e pelo depósito da produção bibliográfica de um país); as públicas (centros de divulgação e acesso à leitura, aos bens culturais,  ao lazer); as universitárias (para suporte à pesquisa e ao ensino em universidades); as especializadas (com acervo específico para atendimento das demandas operacionais de uma instituição ou empresa); as especiais (com acervo em formato, linguagem ou características específicas) e as escolares (para suporte ao ensino nas escolas fundamentais, médias e técnicas).

Outra forma de interpretar o termo “biblioteca pública” na lei é considerando que biblioteca pública é aquela mantida por uma órgão público e com recursos oriundos da administração pública. Assim teríamos a divisão das biblioteca em três grupos: as públicas, mantidas com recursos públicos; as privadas, mantidas por instituições e empresas privadas; e as particulares, organizadas e utilizadas por um grupo restrito de pessoas. Nota-se que tantos as bibliotecas públicas, quanto as bibliotecas privadas são abertas a um público mais amplo. Assim não sabemos se a lei se refere à biblioteca pública, no sentido técnico do termo, ou se refere à ela como uma instituição mantida com dinheiro público.

O certo é que enquanto o Tribunal de Contas da União (TCU) e a STN determinam a classificação dos livros como material permanente, muitos órgãos declararam suas bibliotecas públicas e classificam seu material bibliográfico como bem de consumo, de uso duradouro (cito como exemplo o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região, Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região). Todos estes órgãos se basearam no art. 18 da Lei 10.753/2003. E fizeram a interpretação do conceito de biblioteca pública, considerando que suas bibliotecas são públicas porque são mantidas com recursos públicos e porque são abertas e acessíveis ao público em geral. Se tomarmos as definições técnicas de biblioteca, as bibliotecas destes tribunais devem ser consideradas especializadas; esta definição é utilizada pelos orgãos que não adotaram a classificação dos materiais bibliográficos como bens de consumo, e também pelo TCU e STN.

E qual a diferença entre classificar o material bibliográfico como bem permanente ou bem de consumo? Basicamente é a celeridade no processo de desenvolvimento do acervo. A aquisição, a guarda e o descarte tornam-se mais racionais e céleres ao classificarmos o material como bem de consumo. As obras bibliográficas possuem características que as diferem de outros materiais. O Manual do SIAFI define material de consumo como “aquele que, em razão de seu uso corrente, perde normalmente sua identidade física, tem sua utilização limitada a dois anos e/ou tem a vida útil reduzida de forma acelerada por desatualizações”; e material permanente como “aquele de duração superior a 2 (dois)”. Estes materiais são identificados de acordo com um conjunto de parâmetros excludentes: durabilidade, fragilidade, perecibilidade, incorporabilidade e transformabilidade.

Os materiais bibliográficos são avaliados, em bibliotecas, para fins de desenvolvimento do acervo, de acordo com suas características físicas e também de conteúdo. Na forma o material é avaliado quanto ao suporte, demanda, quantidade, custo, estado de conservação e uso. No conteúdo o material é avaliado quanto à qualidade, pertinência, adequação, atualidade/obsolescência e importância. Há outros critérios utilizados desde a seleção, passando pela aquisição, avaliação, desbaste e descarte, que não listaremos aqui.

A classificação do material bibliográfico como bem permanente leva em conta apenas a forma. Pois se avaliarmos o conteúdo veremos que este material pode perder sua durabilidade antes de dois anos (como exemplo citamos os códigos da área de Direito que são atualizados anualmente). Podemos ter materiais bibliográficos que perdem sua utilidade antes de dois anos (bem de consumo) e outros que vão durar mais (bem permanente). O material bibliográfico é também susceptível ao desgaste pelo uso constante, por causa da fragilidade dos suportes informacionais. Geralmente, o material que circula intensamente sofre danos em sua estrutura física antes de dois anos de uso.

A classificação do material como bem permanente tem o objetivo de assegurar sua preservação e instaurar procedimentos mais rígidos para seu controle e descarte. Contudo, mesmo que o material bibliográfico seja classificado como bem de consumo, não significa que sua gestão seja descontrolada. A aquisição, o tratamento, a disponibilização e o descarte do material são processos fundamentados em critérios rigorosos. Certamente que essa classificação facilita o desenvolvimento de acervo, pois permite que esse processo seja feito com base em critérios técnicos. E garante que a coleção possua materiais adequados para atender aos seus usuários, em espaço físico racional e funcional.

Finalizamos dizendo que essa discussão sobre a classificação dos materiais bibliográficos como bens de consumo ou bens permanentes acontece em diversos órgãos públicos e representa um “embate” entre os setores de Biblioteca e os setores de Controle Interno e Contabilidade. Ainda que o TCU e a STN tenham posições claras quanto à definição de biblioteca pública, insistimos que a Lei 10753/2003 não a define, gerando ambigüidade e possibilidade de interpretações diferenciadas. Mas seja qual for a classificação adotada, o importante é que o desenvolvimento do acervo seja feito com base em critérios técnicos rigorosos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Livros digitais (e-books)

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Quais as vantagens do e-book em relação ao livro tradicional (impresso)? Custo (de aquisição e manutenção), portabilidade, disponibilidade, dinamismo? Tenho dúvidas em relação ao papel dos livros digitais em bibliotecas "tradicionais". Sei que existem bibliotecas que utilizam esse formato há algum tempo. No começo de 2011 Biblioteca Central da UFMG estava analisando a possibilidade de adquirir e-books. Pelo custo, pela economia de espaço, pelo dinamismo do material. Saí da Universidade pouco depois e não sei se a coisa evoluiu.

Em conversas com o grande bibliotecário Leonardo Renault, falávamos sobre a forma de gestão deste material. Como seria sua "circulação"? A forma ideal, ou seja, a biblioteca de e-books ideal seria como a Brasiliana USP, onde o leitor tem liberdade para ler o livro no site ou baixar o arquivo para seu computador, pen-drive, celular, tablet, e-reader, etc. Mas entramos na seara dos direitos autorais. Como garantir que essa "circulação" não fira os direitos do autor (e a lei dos direitos autorais)? Pensávamos na forma de controlar o acesso (que pode parecer censura), de limitar as funcionalidades do arquivo (o que evitaria cópias ilegais), limitando seu manuseio à leitura. Sem permitir impressão, cópia para outro dispositivo ou alterações. Isso exigiria suporte técnico especializado. Outra forma, pensávamos, seria criar bibliotecas digitais com esse acervo de livros digitais, com acesso autorizado através de senha. Mais uma vez pensando em limitar controlar o acesso, permitindo apenas a leitura do material.

Muitas bibliotecas emprestam e-readers - ver exemplo das bibliotecas espanholas no trabalho de Andreia Gonçalves e Sadrac Silva que será apresentado no CBBD 2011 - o que é uma variação pouco criativa do velho empréstimo do documento impresso. Continuamos com a busca da concretude e trabalhamos com um objeto tangível. Digo que é pouco criativa porque temos que lidar com a mesma limitação da modalidade anterior, especialmente o limite de quantidade de material. Se temos poucos livros, atendemos a um número limitado de leitores; se tivermos poucos e-readers também. Uma vantagem dos e-books, que é sua virtualidade, a possibilidade de leituras múltiplas, se perde.

Voltamos outra vez aos direitos autorais. Temos que considerar que as editoras querem ter lucro com o comércio deste material. E elas vendem e-books como se fossem livros impressos. Uma editora da área de Direito, consultada pela biblioteca onde trabalho, informou que vende e-books mas instala uma licença nas máquinas onde eles serão utilizados. Cada versão digital do livro, que custa apenas 10% menos que o do valor do impresso, vem com seis licenças. Isso é pior que trabalhar com o livro impresso, pois restringe o uso do material a seis espaços físicos. Para pessoa física pode ser interessante, mas para uma biblioteca não é.


Sei que temos um dilema pela frente. Somos cobrados dia-a-dia a modernizar nossas ferramentas de trabalho; nossos futuros leitores têm o domínio natural das mais modernas tecnologias de informação. Mas esbarramos em questões de legais e culturais na hora de oferecer serviços modernos aos leitores. Culturais porque o conhecimento sedimentado em livros, produzidos também com intenções comerciais, é quase que dominante na academia. Os e-books de acesso livre ainda são raros, e quase sempre produzidos à partir de iniciativas de Universidades e órgãos públicos de pesquisa (exemplo disso é a Editora Cultura Acadêmica da UNESP; e a EDUFBA, que disponibiliza alguns de seus livros no Repositório Institucional da UFBA). Espero encontrar mais discussões sobre este tema nos futuros congressos da área de Biblioteconomia e CI, como vai acontecer agora no CBBD 2011, que terá dois trabalhos sobre o uso de e-readers e e-books em bibliotecas (ver aqui e aqui); e um terceiro apresentando um guia, em formato e-book, elaborado por bibliotecários da UFSC/UNISUL (ver aqui).


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Alguns sites que disponibilizam e-books para downloads:


http://www.ebookcult.com.br/acervo/index.php
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/freebook_portugues1.htm