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Blog sobre a biblioteconomia, bibliotecário, biblioteca, informação, mensagem, usuário, TICs. O nome do blog foi "surrupiado" de um roteiro (para teatro ou cinema) escrito por Paulo de Castro, o maior bibliotecário da terra. E viva Kalímeros!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O bibliotecário, a atuação profissional e os novos nomes da profissão

Existem discussões no meio acadêmico, profissional e/ou científico que parecem ser infrutíferas, devido à divergência de pontos de vista e opiniões de profissionais e pesquisadores envolvidos nelas. Parecem ser movidas por vaidade ou desejo de domínio sobre certo grupo. Para quem olha de fora, com o olhar leigo, é como discutir o sexo dos anjos. Desde 2002, quando comecei a cursar biblioteconomia, acompanho uma discussão a respeito do profissional bibliotecário e do curso que parece não gerar frutos. O debate é sobre a mudança de nome do curso, de biblioteconomia para ciência da informação, e da profissão, de bibliotecário para cientista da informação (ou gestor da informação). Em defesa da mudança é alegado que atual terminologia não consegue mais abarcar as competências e habilidades do bibliotecário, que agora é também chamado de profissional da informação. Da mesma forma o nome e o curriculo da biblioteconomia estão defasados, segundo os defensores da mudança, gerando a necessidade de um novo nome e um novo currículo acadêmico.

A popularização de novas tecnologias de informação, aliadas à expansão do mercado de produtos informacionais, faz surgir nos bibliotecários o desejo de mudanças estruturais na profissão. A profusão de novas denominações impressiona pela criatividade e pelo ajustamento com o que o mercado deseja. Pelo menos essa é a crença dos profissionais. As novas nomenclaturas incluem termos como gestores de informação, cientistas de informação, analistas de informação, infotecários, cybertecários.

Devo deixar claro aqui que sou contra a mudança do nome do curso e da profissão. Primeiro porque não podemos extinguir uma área e uma profissão tradicionais numa canetada. Segundo, porque falta sustentação teórica e prática para justificar essas novas denominações. Falta também reflexão sobre o desenvolvimento histórico do trabalho do bibliotecário. Essa é uma profissão milenar, na prática, mas academicamente nasceu junto com tantas outras profissões no século XIX. Sou a favor da criação de novos cursos, como já acontece, sem que estes venham substituir a biblioteconomia. Pode-se criar cursos, ou enfâses, para formar cientistas da informação ou gestores de informação, sem precisar "acabar" com a biblioteconomia e com a profissão de bibliotecário. Apenas para usar o argumento dos defensores da mudança, o mercado também pede esse profissional. E muito.

Não podemos esquecer a história da própria profissão, deslumbrados com o discurso do novo. A ciência da informação, essa nova ciência, utiliza-se de ferramentas e técnicas desenvolvidas a milhares de anos, nos primeiros serviços de informação da história: as bibliotecas da antiguidade. Suas ferramentas são as mesmas dos enciclopédistas, dos documentalistas, dos bibliotecários, e têm origem nos primeiros registros do conhecimento; sejam rolos de pergaminho, sejam tabuletas de argila, esses materiais já despertavam a curiosidade dos homens, fazendo surgir as bibliotecas e os catálogos. Durante séculos, os documentos impressos reinaram absolutos como repositórios de informação, o que justifica a adoção de uma terminologia oriunda do mais duradouro e conhecido destes objetos: o livro. As bibliotecas e a biblioteconomia são frutos desta permanência do livro ao longo da história.

Com as novas mídias, os novos suportes, o bibliotecário deixou o ambiente fechado e restrito da biblioteca, para atuar em outras frentes. Sua formação está interligada aos estudos da ciência da informação, que segundo seus teóricos, nasceu para fazer aquilo que a biblioteconomia já fazia: organizar e disseminar informação. A velocidade de desenvolvimento de novas tecnologias impressiona. A internet, com sua teia de possibilidades e seu universo quase infinito de informação nos enfeitiça e hipnotiza. Mas às vezes me questiono: o acesso irrestrito a essa multiplicidade de informação, informa ou desinforma? Como lidar com os novos suportes e contextos informacionais? Considerá-los um modismo é correr o risco de perder o "trem-bala" da história. Mas dar-lhes status "divino" parece ser exagero. Já disse: o papel permaneceu por séculos como principal suporte informacional. O livro, o jornal, a revista impressa não morreram! Ainda! Será que os novos suportes vão sobreviver por milênios? É mesmo necessário saber disso? Essas são questões que eu considero relevantes para a biblioteconomia, tenha a área o nome que tiver.

As amplas possibilidades de atuação do bibliotecário devem nos levar a questionar nossa formação, nossas competências, nosso código de conduta. O que não pode acontecer é essa busca desenfreada por “status”, que pode nos levar a achar que uma simples mudança de nome vai resolver os problemas de nossa profissão.

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